Fichamento de Texto de estudos para complementação no processo do desenvolvimento da Pesquisa
O
Artista como Performer
Dilemas
do eu espetacular nas artes contemporâneas
PAULA SIBILIA
O que é
performance? O termo é escorregadio, polissêmico, repleto de multiplicidade e
armadilhas [pag.14].
A
definição esta longe de ser simples, pois foi inventada para abarcar todas
aquelas manifestações híbridas que não conseguiam ser acolhidas dentro das
margens dos cânones estabelecidos [pag.14].
Em uma
tentativa de cercar o conceito sem deixar de abranger toda essa diversidade, pode-se
afirmar que uma performance no sentido artístico é um ato qualquer, porem
efetuado em um contexto determinado e - eis um fator fundamental - por um ou
vários artistas performáticos. Ou seja, é uma ação praticada por alguém que
considera estar realizando uma performance, e cujo publico assim o vivência
[pag.14].
Assim,
hoje, quando se fala em performance, pode-se fazer referencia ao desempenho
profissional de alguém, por exemplo, aludindo a perícia capaz de render uma boa
atuação em áreas como os negócios, os esportes ou, inclusive, na
espetacularização da vida cotidiana de uma celebridade ou de uma pessoa
qualquer [pag.15].
Performar é ser exibido ao extremo
“Na
vida cotidiana, performar é ser exibido ao extremo, sublinhando uma ação para
aqueles que assistem”, afirma o especialista em um artigo intitulado,
precisamente, “O que é performance”; e prossegue: “no século XXI, as pessoas
têm vivido, como nunca antes, atreves da performance” (SCHECHNER, 2003)
[pag.15].
“Mais e
mais pessoas experimentam suas vidas como seqüência de performances
conectadas”, […] “esse senso de que a performance esta em todo lugar é
enfatizado pelo ambiente cada vez mais midiatizado em que vivemos”[pag.16].
Se o
modo de vida contemporâneo leva os sujeitos a emoldurarem seus gestos e seus
atos cotidianos como se fossem projetados em uma tela midiática, estimulando um
jeito performático de ser, isso é algo cujas implicações merecem ser examinadas
com maior atenção [pag.16].
É
preciso, o tempo todo, performar: mostra-se fazendo alguma coisa e sendo alguém
- e, é claro, também é necessário ser visto nessa exibição [pag.17].
A arte de se mostrar fazendo [e sendo]
Na
linguagem coloquial, por exemplo, dizer que alguém é “performático” significa
que seus gestos e atos parecem ter sido treinados para impressionar o
espectador [pag.17].
Só se
performa para o olhar alheio. Eis uma definição que converte o artista-performer
em um personagem: aquele que sempre tem testemunhas, alguém que precisa ser
olhado porque sua existência está atrelada e condicionada por esse olhar dos
outros. Porque um personagem só existe se esta sendo observado: só é alguém se
os demais enxergarem a sua performance [pag.18]
“Teóricos
da performance argumentam que a vida diária é performance, e cursos são
ministrados sobre a estética do cotidiano”, constata ainda Richard Schechener
[2003]; “hoje, dificilmente existe atividade humana que não seja uma
performance para alguém, em algum lugar [pag18].
Eis uma
das múltiplas complicações implícitas nesse tipo de implosões das velhas
categorias: se tudo é performance e todos somos performers o tempo todo, então
corre-se o risco de que nada e ninguém o sejam jamais. Ou, então, de que a coisa
nomeada não seja relevante ou sequer existia [pag.18].
Uma performance para alem do “ performático”
São
vários os paradoxos que assombram os campos artísticos na contemporaneidade, e
que colaboram para sua peculiar absorção das mutações mais recentes nas
subjetividades [pag.19].
…a
partir das reivindicações vanguardistas, por exemplo, o artista passou a ser
tanto sujeito como objeto de sua obra. O ato de criar tornou-se, ele próprio,
uma espécie de objeto de culto: ao se colocar sob os holofotes, o corpo do
artista se converteu no principal alvo dos espectadores [pag.19].
Não é
causal, portanto, que a body art e a performance tenham surgido nesse terreno
que fertilizou a cena artística contemporânea. Basta incorporar, nesse
caldeirão, a crescente importância da mídia e do mercado na definição do que é
arte e de quem é um artista… [pag.19].
Arte é
aquilo que faz essas excêntricas celebridades, os artistas mais bem cotados do
momento… mesmo que eles nada façam. Basta apenas que saibam ser artistas - ou
parecer, pois a diferença entre ambos os verbos foi apagada -, na medida em que
saibam performar seus próprios papeis e
se mostrar como tais [pag.20].
Mas é
justamente por tudo isso que o valor artístico e tão vital na
contemporaneidade: as artes têm muito a dizer sobre o que esta acontecendo e
sobre o que pode vir a acontece; e, muito especialmente, acerca dos que
gostaríamos que ocorresse, mas ainda nem conseguimos sequer imaginar [pag.20].
Cabe a
ousadia artística, portanto, a difícil missão de driblar as sedutoras ciladas
da espetacularização de si, que levam as subjetividades contemporâneas a se
mostrar desesperadamente e do jeito que for tentando conquistar as vitrines da mídia
e do mercado para terem a certeza de que são alguém [pag.20].